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Opinião: “Enfrentar o desconhecido em tempo de Brexit”

O meu nome é Filipa Infante Silva, nasci na cidade de Aveiro em 1977, tendo-me mudado para Lisboa em 1998.

Estudei Gestão no ISCAL- Instituto superior de Contabilidade e Administração de Lisboa, trabalhei sempre na área administrativa obtendo uma vasta experiência na área.

Em 2012 senti, pela primeira vez, o efeito da crise socioeconómica na minha vida e passei de uma situação definitiva para provisória, até então.

Em novembro de 2016, recebi um email de alerta de trabalho por parte da Go Work com uma oferta para Auxiliar de Saúde, no Reino Unido. Não hesitei em contactar e tentar perceber do que se tratava.

Foi então que marcamos a primeira entrevista. As condições salariais atrativas e o enquadramento geral enquadravam-se perfeitamente no meu cenário atual – 39 anos, desempregada, com as despesas mensais por pagar e alguma falta de perspetivas em Portugal.

Falava-se então do Famoso “Brexit”, a saída do Reino unido da União Europeia. É evidente que pensei como seria o cenário dos próximos tempos, mas também pensei que se não aproveitasse a oportunidade, provavelmente não teria outra.

Vim para o Reino Unido com 300 libras na carteira, residindo atualmente em Cardiff, Capital do Pais de Gales.

Não posso comparar o emigrante que parte à aventura sem ter uma oferta profissional concreta. No meu caso, tive todo o apoio da Go work no que diz respeito ao plano de recrutamento seleção e enquadramento da Função. Tudo foi coordenado e orientado pela Go Work.

Senti um impulso muito grande, também porque, tendo a experiência de desempregada com mais de 35 anos em Portugal, por vezes, senti um vazio, um sentimento de desconsideração por parte das Entidades Empregadoras.

Foi fácil decidir, foi difícil aceitar que aos 40 anos deixaria a minha zona de conforto, a minha língua, a minha família e amigos, toda experiência profissional, um conjunto de coisas ficaria numa caixinha de recordações resumidas ao meu passado.

No que diz respeito à adaptação, posso salientar que estou sempre a fazer comparações entre Portugal e o Reino Unido. Sofro por Portugal ser conhecido pela cidade de Albufeira, no Algarve. Como podemos reduzir um país intenso a uma estância Balnear!?

Em relação ao trabalho em si, foi realmente um desafio, confesso que pela positiva. Tinha consciência do meu interesse pela área da saúde, mas daí a imaginar que viria a trabalhar na área não me havia passado pela cabeça.

Enfrentei muitos dias de desafio emocional, entre o querer vencer e o desistir, talvez por ser o caminho mais fácil, o desistir, o voltar, ou porque estava sempre a chover, ou porque não gostava da casa onde resido, ou porque os anglo-saxónicos, não conhecem verdadeiramente um país como Portugal.

Tento, todos os dias, dar o meu melhor, tento passar a imagem de que Portugal vale a pena. Estou a melhorar o meu inglês, de dia para dia. Maioritariamente trabalho com outros emigrantes, da Roménia, Tailândia, Índia, Itália.

Um fator muito importante e mais marcante foi o de habitar com uma família Muçulmana oriunda do Sudão, que veio contrariar a minha ignorância, dando-me a oportunidade de conhecer uma realidade diferente, mas não distante – somos todos iguais na forma!

Resumindo, dois olhos no Reino Unido e o Coração em Portugal!